sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Na Marechal do Marechal com Marechal

Para quem conhece São Bernardo do Campo sabe que a rua Marechal Deodoro é a principal via do comércio que movimenta nossa cidade. O Marechal de Deodoro da Fonseca foi nosso primeiro presidente e se seus restos mortais, se ainda estivessem num caixão, com certeza se revirariam de revolta por tal homenagem.


Marchando com meu Vans surrado e de sola descolando (aceito doações), como o Marechal fez com suas botas rumo às terras paraguaias para a maior batalha nossa da história (que orgulho...), lá estava eu na calçada da direita de São Bernardon e após alguns passos chego à conclusão que algumas só acontecem aqui.

Em meio a tantas pessoas, escuto um grito "Aê maluco, tô ligado, vc é do SENAI...". Ok, realmente, eu fiz SENAI, em São Bernardo, mas isso foi em 99, ou seja, 13 anos atrás. Um tanto quanto curioso em notar que o figura caminhava em minha direção, percebi que era um figurinha fácil de ser lembrado, mas não me perguntem o nome, não faço nem ideia.
Pois bem, ao se aproximar de mim, o garoto polaco, um pouco mais baixo que eu (tenho 1,77) e de dentes zuados (minha tia Rose, de Santos, teria muito trabalho no consultório com ele como paciente) continuou a passar a minha ficha: "Você estudou no 20 de Agosto...". Mais uma vez ele acertou, mas isso também aconteceu em 2000, há apenas 12 anos. Mais um ponto para o alemãozinho de boa memória. Pensei, tenho que dominar essa situação. Coloquei-o como entrevistado e como se fosse meu melhor amigo: "Fala aê, Alemão! Como você está?". Maldita hora que fui perguntar por isso. Mal sabia eu que teria que atuar como psicólogo e assessor jurídico. "Pois é cara, saí do trampo... Briguei com os filhos do meu chefe" disse ele. Fiz cara de espanto e deixei que continuasse o relato. "Agora estou indo lá ver se eles me pagam, se não me pagarem, vou na justiça!"  Dei alguns conselhos sobre onde conseguir tal assessoria e como tentar um diálogo com o ex-patrão para resolver as coisas da melhor forma possível.
O mesmo se despediu com um sorriso sincero e votos de sucesso para mim. Repeti as palavras, mas volto a informar que não faço ideia de quem ele seja...

Menos de uma quadra percorrida, fui abordado por uma coreana, de baixa estatura, que não devia ter mais do que 16 anos. Ela veio em minha direção com um sorriso, milhares de canetas na mão e começou a acompanhar meus passos rápidos rumo ao meu trabalho. A fim de despistá-la, falei o discurso de sempre, que não tinha tempo para lhe dar atenção e nem dinheiro para comprar o que estava me oferecendo. Ela perguntou se poderia falar o porquê de estar ali caminhando comigo com as canetas na mão. A coreaninha simpática se apresentou, seu nome era Erica, mas não me perguntem o sobrenome que pode ser qualquer coisa tipo Ching, Ling, Tsun, Park ou Lee, entendeu, né?! Ok!
Ela disse estar fazendo um trabalho voluntário com a venda de canetas para ajudar a menores pela igreja dela. Lógico que perguntei para qual igreja a mesma estava representando. Respondeu-me "a igreja da Unificação, você conhece?" Disse que sim e apenas para confirmar perguntei se era a do Reverendo Moon. A pequena coreana fez o sinal de positivo com a cabeça demonstrando um certo espanto. Aproveitei o assunto e testei seus conhecimentos sobre o Reverendo, questionando se ela sabia que ele era dono de um time de futebol profissional. Mais uma vez a pequenina respondeu de bate-pronto: " O Atlético Sorocaba!" Ok. Ela entende das coisas. Contei a ela a história de que divulgaram na China que a Seleção Brasileira faria um amistoso contra a seleção local, mas o que mandaram pra lá foi o time do Atlético Sorocaba e quando os chineses descobriram que a equipe de uniforme canarinho e de futebol extremamente limitado (pra não dizer horroroso, assim como o do Mano Menezes...) não era o time de Kaká e Ronaldinho Gaúcho a coisa ficou feia  e até o Reverendo Moon teve que intervir para trazê-los de volta ao Brasil. Detalhe, o jogo acabou 0 a 0. Histórias à parte, seguimos andando na Marechal e ela continuava tentando me convencer a comprar uma caneta. Meu lado solidário falou mais forte e pela persistência da oriental, acabei ficando com uma. Acho que no fim, ela acabou gastando uma parte do dinheiro pagando o ônibus, afinal ela foi parar muito longe do local onde nossa conversa começou.

Recoloquei meu fone na orelha e segui escutando MC Marechal e suas rimas na Marechal do Marechal.

Um dos trechos da música "Viagem", do Marechal,  retrata bem o que passamos diariamente nas ruas das grandes cidades e este foi apenas o relato de mais um exemplo.

"Por que na rua ninguém mais se encontra,
Se esbarra
Ninguém mais se olha,
Se encara
Ninguém mais se ama,
Se amarra
Pra ser feliz ninguém mais se joga,
Se agarra"




    

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