segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Elitização


Há tempos venho desenvolvendo essa conversa com Henrique Celso, até que chegou o dia de escrever sobre este tema.

O processo de elitização na qual estamos passando vem refletindo diretamente no nosso comportamento e, sem perceber, estamos nos adaptando de forma passiva a tal mudança.

Procurando exemplos, foi muito simples encontrar. Todo esse pensamento começou a partir de uma reflexão sobre o “novo” formato nos shows de bandas “independentes”. Notei que dificilmente nos deparamos com aquela inocência em cima do palco e, consequentemente, nos bastidores destes eventos, a situação é pior. Os valores exorbitantes das entradas se assemelham ao processo de elitização do futebol, que utiliza como modelo o método adotado na Inglaterra, onde o ingresso mais barato não sai por menos que 70 pounds (aproximadamente 210,00 reais). Ou seja, tanto o frequentador de shows quanto o torcedor brasileiro tem que se planejar, caso queira acompanhar sua banda favorita ou seu time do coração no estádio.

No exemplo dos shows, há uma explicação, não justificável, mas bastante utilizada. Com a quebra do mercado fonográfico, restou aos artistas a renda vinda das apresentações e não mais da venda de cds e dvds. Veja os exemplos dos valores de festivais como Rock in Rio e SWU, sem falar no preço cobrado pelo show da Madonna, em que a produtora foi notificada pelo Ministério Público, devido à cobrança surreal de R$ 800,00 por um ingresso.

No caso do futebol, o “aceitável” é a permanência de grandes nomes da bola em solo tupiniquim, deixando o sonho de atuar no futebol europeu em segundo plano, uma vez que o salário pago pelas equipes brasileiras é semelhante (às vezes maior) ao europeu, e mesmo assim, com altos investimentos nos plantéis, os clubes continuam deixando o torcedor sem seus direitos, mesmo com o Estatuto do Torcedor em vigor, o financiador de tudo isso ainda é submetido a ingressos caros, estádios sem assentos, banheiros imundos, violência, falta de estacionamento, entre outras coisas...

Da mesma forma que somos “obrigados” a torcer por ex-jogadores em atividade que voltaram da Europa para finalizarem a carreira no Brasil, temos de engolir a volta de bandas que haviam acabado e resolveram voltar à ativa, fazendo turnê por aqui para arrecadarem uma grana fácil.

Portanto, para acompanhar a elitização, faça hora-extra em seu trabalho, economize ao sair para comer, diminua sua conta de telefone fixo, passe seu celular para pré, se vista com roupas brechó e ande com seu carro só na descida para economizar combustível. Era só o que faltava, né...




Rudah Tozati

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